Adriana Lampert
Uma ação orientada pela Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), a partir de iniciativas diversas no mesmo sentido, tem sido adotada pelas empresas do segmento de turismo, a fim de minimizar prejuízos que já começam a surgir devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Para manter a sustentabilidade dos negócios, as agências têm se empenhado em convencer os consumidores a adiarem a data de embarque de pacotes que já foram adquiridos. Dados da entidade apontam que a taxa de cancelamento de viagens já chega a 85%. Em meio à maior crise dos últimos anos, devido aos impactos causados pelo fechamento de fronteiras e consequente cancelamento de viagens, o setor encontra-se “totalmente paralisado”, nas palavras do vice-presidente da entidade, João Machado.
“Considerando que, no mês de março de 2019, o faturamento do setor foi de R$ 19,2 bilhões, os impactos imediatos já preocupam, uma vez que não há previsões de novos faturamentos”, explica Machado. Algumas agências ainda estão conseguindo “respirar” financeiramente porque há quem esteja comprando pacotes para viajar a partir de setembro.
“Graças a isso, por enquanto, está sendo possível fazer girar algum capital, porque, para os próximos meses, as vendas estão paradas”, avisa a diretora da MC Turismo, Cintia Cristina Martins. Ela informa que a campanha da Abav está dando resultados positivos. “A maioria dos clientes que está cancelando concordou em alterar a data, ou deixar créditos em aberto para viajar mais adiante. Poucos estão pedindo reembolso”, comenta Cintia, destacando que, para incentivar esta solução, as companhias aéreas estão isentando das multas. “O consumidor que adia sua programação garante sua segurança e ainda colabora com o trade, que tem grande peso na economia nacional e mundial, englobando atividades como restaurantes, hospedagens, transportes de passageiros, agências de viagens, cultura e lazer”, defende João Machado.
De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o turismo emprega, formalmente, cerca de 2,9 milhões de pessoas no Brasil e, somente em 2019, gerou um faturamento de R$ 238,6 bilhões. Segundo a World’s Travel and Tourism Council (WTTC), o turismo é responsável por empregar 319 milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2018, sua contribuição ao PIB foi de aproximadamente 10,4%, com uma soma de US$ 8,8 trilhões. Somente no País, a estimativa dessa contribuição para o PIB foi de 8,1%.
“Atualmente, estamos trabalhando mais do que em dias comuns; no entanto, a dedicação é para resolver os problemas de cancelamentos”, comenta o diretor da Argos Turismo, Danilo Martins. Segundo ele, está sendo possível direcionar 80% das demandas para datas futuras. “Mesmo que as pessoas quisessem, nem conseguiriam viajar. Não está dando para entrar nos Estados Unidos nem na Europa, por exemplo. Agora, temos que esperar, no mínimo, quatro meses para ver o que irá acontecer. Mas posso afirmar que o impacto será gigantesco para o setor”, pontua Martins, que é presidente do Sindicato das Empresas de Turismo Rio Grande do Sul (Sindetur-RS). No que se refere aos funcionários, as agências negociam com o sindicato responsável para adiar férias, reduzir carga horária e determinar o home office para a maioria dos casos. “A verdade é que esta é uma situação bem complicada para as agências, as companhias aéreas (que estão cancelando voos) e os hotéis, que estão com queda na taxa de ocupação.”
Entidades enviam carta solicitando medidas ao Ministério do Turismo
No início desta semana, as principais entidades do setor de turismo formalizaram uma carta, enviada ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, contendo cinco medidas emergenciais, visando garantir sustentabilidade das empresas de viagens e turismo. “Esta é a maior crise vivenciada pelo setor na era atual, e prevemos um altíssimo índice de falências entre as empresas relacionadas ao turismo, resultando em milhares de pessoas desempregadas e impactos diretos e indiretos no PIB brasileiro”, diz o documento.
No rol de medidas, as entidades solicitam disponibilização de linha de crédito especial na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil para as empresas de turismo, com carência para início do pagamento de, no mínimo, seis meses; a aprovação de decreto para postergar o pagamento de impostos relativos à folha de pagamento, também por seis meses, desde que quitados no exercício de 2020; liberação do saque do FGTS para funcionários de empresas que exerçam atividade turística; parecer favorável do Ministério da Justiça em relação à remarcação de viagens contratadas pelo consumidor, frente ao cancelamento e à devolução de valores; e redução do IRRF a 0% nas remessas para pagamentos de serviços turísticos ao exterior.
Fonte: Jornal do Comércio