Brasil chega a 24 milhões de empreendedoras

Número é grande, mas ainda há muito que melhorar

Rosanna Tarcitano tem alma empreendedora. Criar negócios, abrir nichos de comércio ou estar à frente de alguma iniciativa inovadora sempre foi o que moveu a jornalista. Já foi consultora de moda e estilo, promotora de eventos e hoje é uma respeitada empresária que atua no desenvolvimento e promoção de queijos artesanais. Para ela, ser dona do seu próprio negócio é importante como realização profissional e garantia do seu sustento.

A empresária está entre os 24 milhões de mulheres que empreendem no Brasil. Elas ainda respondem por 48% dos empreendimentos iniciais, isto é, com menos de 42 meses de existência. Os dados são de um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) lançado em novembro de 2019, que também revelou que elas não só são tão presentes no mercado quanto os homens (34%), como também são mais preparadas. Na média, as mulheres donas de negócio são 16% mais escolarizadas.

O estudo se integra com dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita em 2018 e que mostra que o Brasil registrou a sétima maior participação feminina entre os empreendedores iniciais, ou seja, aqueles com negócios de até três anos e meio de atividade, em 49 países estudados.

Se, por um lado, a pesquisa indica brasileiras empenhadas em viver do próprio negócio, por outro, revela que, apesar de representarem quase metade do número de empreendedores no Brasil, as mulheres têm imensas dificuldades de manter suas empresas. Isso porque, além das dificuldades enfrentadas por todo empresário, elas encaram os obstáculos da “dupla jornada”, dividindo seu tempo entre trabalho e afazeres domésticos.

“Existe a ideia de que é a mulher que deve se responsabilizar pelo cuidado com as tarefas da casa, dos filhos e idosos”, explica Renata Malheiros, especialista em cultura empreendedora do Sebrae. Segundo ela, essa condição faz com que as mulheres escolham atividades muito mais voltadas às necessidades que às oportunidades. Não por acaso, 25% daquelas que empreendem trabalham em casa, proporção significativamente maior que dos homens (6%).

Renata diz que essa condição explica, em parte, por que, apesar de serem mais escolarizadas, elas ganham 22% menos que eles. “As empreendedoras vão procurar por segmentos que possam ser tocados em ambientes domésticos, como alimentos, moda e beleza, geralmente mais mal remunerados que outros”, continua. A especialista também fala das chamadas crenças limitantes, que predeterminam papéis para mulheres e homens no universo do trabalho. “É comum as mulheres enfrentarem barreiras meramente culturais, como desconfiança de competência ou de autonomia”, diz.

Rosanna sabe o que é isso. Ao negociar produtos para fazer a revenda ou distribuição, já percebeu que, muitas vezes, seu prazo é inferior ao dos concorrentes. “É nítida essa incredulidade com uma negociadora mulher”, diz. “Não é algo explícito, mas existe uma cultura de confiar mais em um homem ou mesmo em uma mulher que tenha um homem como sócio”.   

A boa notícia é que, à medida que cresce o número de empreendedoras, aumenta as iniciativas para reforçar a atividade empresarial feminina. Segundo Renata, são muitos os projetos que incentivam e orientam as empresárias. O programa Sebrae Delas, por exemplo, está presente em 12 estados, acelerando empresas e aumentando a probabilidade de sucesso de ideias. Grupos como a Rede Mulher Empreendedora trabalham com o propósito de empoderar as empresárias, garantindo independência financeira e de decisão sobre seus negócios. “São movimentos que aos poucos vão abrindo novas possibilidades e investimentos”, diz.

E para quem pensa que essas questões têm a ver com discussões meramente de gênero, Renata lembra que essa é uma pauta de desenvolvimento econômico. “Viabilizar e otimizar negócios, sejam eles de homens ou mulheres, sempre será uma forma de gerar riqueza e renda”.

Fonte: Varejo SA