Como o varejo lucra com a economia do reparo

Serviços de reparo e customização podem atrair e fidelizar um público cada vez mais comprometido com a sustentabilidade e em reduzir os gastos.

 

 

Varejistas podem incrementar os serviços, oferencendo reparos e ajustes

No mundo todo, cresce o número de pessoas que buscam cuidar, reparar e reutilizar, aponta relatório recente da WGSN, consultoria internacional especializada em identificar tendências. Este comportamento é influenciado, em grande medida, pela redução do poder de compra dos consumidores, em função da inflação vista em vários países, e maior comprometimento com a sustentabilidade.

Isso significa que há um grande contingente de indivíduos querendo economizar dinheiro e, consequentemente, preferindo reaproveitar seus pertences e recorrer a mercados de segunda mão. O objetivo é potencializar o uso dos itens que já possuem e gastar menos com coisas novas.

Os varejistas podem aproveitar este comportamento para inovar e incrementar os serviços da loja, facilitando para o consumidor a tomada de decisões mais sustentáveis. Neste sentido, é uma boa iniciativa passar a oferecer serviços de conserto. Outra oportunidade é revender itens reaproveitados em bom estado e por um preço que o bolso agradece. É possível ainda na customização de peças de segunda mão, com o apoio de designers e costureiras. O mote é garimpar e encontrar peças verdadeiramente únicas sem gastar muito.

“A sueca Nudie Jeans está na vanguarda dos reparos na loja, com artesãos trabalhando em suas 33 lojas no mundo todo e consertando quase 46 mil pares de jeans ao longo de 2020. Em 2021, a loja colaborou com a varejista de moda de luxo Browns para levar essa proposta adiante, criando uma cápsula de edição limitada que consiste em peças de jeans reparadas, batizada de Re-worked. A peça ‘salvaged selvedge’, por exemplo, incorpora retalhos de diferentes tipos de jeans, criando itens exclusivos a partir de peças que iriam para o aterro”, a WGSN traz como exemplo em seu relatório.

Ajuste e aluguel
Neste cenário econômico, muitas famílias com crianças pequenas buscam alternativas econômicas para deixar as crianças sempre bem-vestidas. As roupas ficam rapidamente pequenas, e nem sempre o bolso acompanha o ritmo de crescimento dos pequenos. Por isso, serviços de aluguel e brechós de roupas infantis são ótimos modelos de negócios.

 

Aluguel de roupa infantil é uma oportunidade de negócio da economia de reparo

No Reino Unido, o clube de assinatura Thelittleloop aluga roupas infantis para crianças em crescimento. Assinando um plano mensal fixo (disponível em três níveis), os clientes têm acesso a uma variedade de roupas de marcas parceiras e podem ficar com os itens pelo tempo que quiserem. A empresa tem um sistema de crédito por meio do qual o consumidor recupera os créditos assim que as peças alugadas são devolvidas. Depois de cada locação, os itens são cuidadosamente recondicionados e reparados em caso de algum dano ocorrido durante as brincadeiras.

O aplicativo londrino Sojo recomenda alfaiates locais e ainda oferece serviço de bicicleta para busca e entrega dos itens a serem reparados. O app também incentiva os usuários a comprarem roupas de segunda mão, mesmo que não sirvam perfeitamente, aproveitando o serviço simples e acessível da Sojo para ajustar a peça.

Reparos inclusos
Para atrair este público, o varejo pode também incorporar, sobretudo nas lojas físicas, serviços de ajuste e conserto no custo de peças novas. Esta é uma estratégia interessante para construir um relacionamento duradouro com a clientela, incentivando a visitar a loja e construindo uma reputação de consciência ecológica.

“Embora os esquemas próprios de revenda e reciclagem tenham explodido nos últimos meses, os sistemas de reparo oferecem uma solução muito mais econômica para as lojas e uma experiência mais personalizada para os clientes. Oferecer reparos gratuitos ou a valores baixos é uma forma de afirmar a qualidade das roupas da marca, além de estimular um relacionamento contínuo com o cliente, já que a transação não termina no momento da venda”, aponta a WGSN em seu relatório.

Em fevereiro de 2022, a varejista de moda Uniqlo, que já oferecia ajustes de baixo custo para suas calças, lançou mais um serviço de reparo em sua principal loja, em Nova York: por uma pequena taxa, a sua equipe de ajustes conserta pequenos rasgos e zíperes quebrados. Os casos que exigirem reparos maiores, o cliente recebe uma verdadeira consultoria individual.

Desafios
O serviço de reparo não exige muitos equipamentos, no entanto, as empresas podem ter dificuldade para encontrar profissionais qualificados. Os varejistas que tiverem dificuldade em encontrar costureiras e até mesmo designers podem oferecer programas ou estágios de treinamento, criando áreas dedicadas a esses artistas de reparos e customização e uma atmosfera única e experimental. Um diferencial competitivo em tempos nos quais a experiência de consumo é essencial para atrair e manter consumidores na loja física.

Fonte: Varejo SA