Quando planejar a sucessão do líder na empresa familiar?

Juliana Andrade (esq.), Adhara Vieira e Fernanda Peregrino no estúdio da CNDL para gravação de podcat
Foto: arquivo pessoal

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) indicam que, no Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar, representando cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e empregando 75% dos trabalhadores no país. Embora, o Brasil tenha tantas empresas familiares, estudos mostram que a sucessão é um tema ainda pouco discutido e nem sempre é encarado com a profundidade que merece.

Segundo levantamento da PwC, em 2018, 44% das empresas com este perfil não tinham um plano de sucessão e 72,4% não apresentavam uma sucessão definida para cargos-chave. E para as empresas familiares, nenhum desafio é tão grande quanto planejar e executar o processo sucessório, garantindo que estes negócios se mantenham vivos e competitivos por muitos anos.

Na fazenda Dona Celina, localizada em Unaí, Minas Gerais, o processo de sucessão já foi iniciado, apesar de não ter sido planejado. Há cerca de dois anos, Juliana do Vale Andrade assumiu a gestão da empresa familiar, e tem gradualmente substituído o seu pai, Sérgio Andrade, na condução do negócio.

“No começo ele não gostou da ideia, mas hoje ele assume que foi a melhor coisa que aconteceu. O negócio tem se transformado”, contou Juliana Andrade para a equipe da CNDL. A empreendedora participou do episódio desta semana do Varejo S.A. Podcast.

Convencer o pai de que estava preparada para administrar a fazenda foi o menor dos desafios da empreendedora. Em um ambiente majoritariamente masculino, Juliana Andrade teve que conquistar o respeito da sua equipe. “Eu fui de setor em setor para vivenciar o dia a dia da equipe. Eu entendi como a fazenda funcionava, antes de fazer qualquer mudança. Além disso, eu tento fazer com que cada um da equipe se sinta pertencente ao negócio”, relatou Juliana Andrade.

Juliana Andrade assumiu a fazenda da família e tem inovado na gestão do negócio
Foto: arquivo pessoal

Criada há cerca de 30 anos e um dos negócios do Grupo Gran, a fazenda é referência na produção de touros bovinos da raça Nelore – P.O (puro de origem). Na propriedade, que recebeu o nome da mãe do fundador, é realizado o processo de seleção genética – transferência de embrião, fertilização in vitro e inseminação total do rebanho –, visando a qualidade e aperfeiçoamento genético dos animais.

Gestão inovadora
Um dos caminhos para planejar a sucessão no negócio familiar pode ser a Constelação Sistêmica Organizacional (CSO), que contribui, entre outas coisas, para a melhoria das relações interpessoais dentro das empresas. A técnica também auxilia os administradores a mapearem os pontos de dificuldades na gestão do processo de produção e na qualidade do produto ou serviço final.

Adhara Campos Vieira, especialista em CSO que também participou do episódio #44 do Varejo S.A. Podcast, explica que muitas vezes as empresas focam mais na produção e no produto, e se esquecem que a relação da equipe afeta diretamente no desempenho dos outros dois aspectos. Além disso, o processo de sucessão é lento, pois exige que o novo gestor mostre, gradualmente, sua capacidade para assumir o desafio.

“Não se pode ter pressa! É preciso saber esperar o tempo do outro, afinal, ninguém vai passar o bastão de uma hora para outra. É preciso tempo para as pessoas envolvidas assimilarem a nova gerência”, afirmou Adhara Vieira. “E tem uma parte do ensinamento que é orgânica. No caso da Juliana, ela acelerou este processo quando decidiu se mudar para a fazenda e passou a ter experiências que o próprio pai dela não tinha”, avaliou.

Adhara Vieira usa a Constelação Sistêmica para melhorar a gestão do negócio
Foto: divulgação/Instagram

Segundo a especialista, o método de gestão pode ajudar a empresa a criar um ambiente harmônico e produtivo, no qual os colaboradores se sintam pertencentes e acolhidos. Neste sentido, as ações de incentivos – como dias de descanso e bonificações atreladas a metas – são uma boa forma de alcançar qualidade e eficiência no processo, produto e pessoas.

“As premiações extras e os bônus, como colocar uma participação nos lucros da empresa, parecem ter um custo alto, à primeira vista, mas são uma dinamite de produtividade, que faz a equipe ‘explodir’ de tanto trabalhar, e alegre, com a alma realmente no negócio”, ressaltou Ahara Vieira.

Fonte: Varejo SA