Vinicius Ferlauto
Desde 2002 Elizeu Pereira é o gerente-geral da Savarauto, concessionária de automóveis com representações das marcas Mercedes-Benz, Jeep e Toyota no Rio Grande do Sul. Natural de Santa Catarina, o administrador de empresas comenta sobre as iniciativas que a empresa tomou para lidar com os desafios impostos pela pandemia de Covid-19, além de abordar tendências do mercado automotivo, como a concentração na distribuição e os veículos híbridos e elétricos.
Jornal do Comércio – A Savarauto atende a um público de poder aquisitivo elevado, normalmente menos afetado por retrações econômicas. Mas nesse caso extremo da crise, qual foi o impacto nos negócios da empresa?
Elizeu Pereira – Realmente, nosso público tem poder aquisitivo diferenciado, mas também sentiu muito a pandemia, até porque são normalmente empresários ou profissionais liberais, que tiveram reduções significativas em suas atividades. Em nosso caso, além do impacto financeiro, a loja vários meses fechada afetou psicologicamente a equipe de colaboradores. Tudo isso repercutiu nas vendas, que reduziram de 50 a 60% nos meses de quarentena. Contudo, verificamos uma elevação nas vendas de carros de valores mais altos, possivelmente porque esse cliente ficou em casa, sem poder viajar e fazer outros gastos, então acabou decidindo adquirir um automóvel mais exclusivo.
JC – Como foi a adaptação da empresa a esse cenário da pandemia e quais as medidas adotadas tiveram repercussão mais positiva nas vendas?
Pereira – Tivemos que tomar o caminho que todo mundo tomou, da venda on-line. Procuramos chegar aos clientes através das mídias sociais, do nosso site, do WhatsApp. Essa adaptação trouxe algumas ferramentas que vieram para ficar, como o caso da venda on-line, que exigiu uma profissionalização maior da empresa para sua operacionalização. Nossa mídia também migrou para o on-line, já que o off-line não daria o resultado desejado nessa circunstância. Tivemos o pós-venda funcionando o tempo todo durante o período, com menos atendimentos, é claro, mas isso nos ajudou porque aproveitamos o momento para fazer contato com os clientes.
JC – A Savarauto se notabilizou por manter um relacionamento próximo de seus clientes. Como ficar perto dos clientes em tempos de distanciamento social?
Pereira – Sempre trabalhamos muito forte isso, pois acreditamos que o relacionamento é o que nos ajuda a vender. Nosso público gosta disso, temos clientes que às vezes vêm à loja apenas para bater um papo e tomar um café. E, nesse momento em que não pudemos fazer eventos para evitar aglomerações, tentamos nos relacionar pelas mídias sociais, sem focar em vendas, mas procurando saber como o cliente e sua família estavam passando, se precisavam de algo em relação ao seu carro. Foi um contato muito mais social do que comercial, para tentar manter esse vínculo que temos muito forte com os clientes, que se traduz em uma grande fidelidade deles à Savarauto e aos nossos produtos.
JC – Temos visto, no setor de distribuição de veículos do Rio Grande do Sul, um movimento de concentração das concessões em cada vez menos grupos empresariais. Como analisa esses movimentos e qual a estratégia de futuro da Savarauto frente a esse panorama?
Pereira – Não apenas o automotivo, vários setores da nossa economia têm se concentrado, é uma tendência. Até porque quanto mais forte a empresa estiver em faturamento, melhor consegue se manter no mercado. A Savarauto hoje já atua com várias marcas e possui pontos comerciais em várias cidades gaúchas. E se tivermos que crescer mais, vamos crescer, inclusive agregando marcas ao nosso negócio, pois, de fato, essa é a tendência do mercado.
JC – Os veículos híbridos e elétricos estão começando a ganhar terreno no mercado brasileiro. Recentemente, a Mercedes-Benz passou a comercializar aqui seu primeiro modelo 100% elétrico, o EQC 400. Como você avalia o potencial desses carros?
Pereira – Pensando no contexto do mercado brasileiro, acredito que o híbrido será muito forte, antes do elétrico, já que tem mais facilidade de uso e mais estrutura. Porém, o elétrico está chegando também. O EQC 400 é totalmente elétrico, conta com autonomia de mais de 400 quilômetros e entrará muito forte nessa disputa. Claro que, inicialmente, ele vem em um volume pequeno – teremos algumas unidades disponíveis em outubro e novembro. Mas o comprador de carro elétrico no Brasil estará sabendo que terá que se adaptar, por exemplo, no caso de uma viagem longa: organizar uma parada para recarregar as baterias, o que não é tão rápido quanto abastecer em um posto de combustíveis. Já tivemos contato de clientes interessados no EQC 400 e que estão dispostos a passar por isso, até porque, no dia-a-dia ou em viagens mais curtas, o automóvel, além de não poluir, tem uma grande vantagem de custo em consumo e manutenção.
Fonte: Jornal do Comércio